sábado, 10 de setembro de 2011

‘A gente vai levando… até quando?’ Texto de Selma Sueli Silva

A independência do Brasil foi declarada em 1822 para por fim ao domínio português e marcar a conquista da autonomia política brasileira. Os primeiros países que reconheceram nossa independência foram os Estados Unidos e o México. Portugal, para reconhecer essa independência, exigiu o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas. Sem este dinheiro, D. Pedro recorreu a um empréstimo da Inglaterra. Ou seja, o Brasil independente já nasceu dependendo de um endividamento externo e, claro, do pagamento de propina.

Naqueles tempos, assim como hoje, o povão sequer acompanhou ou entendeu o significado desse fato histórico. Afinal, a estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda permaneceu desigual. A elite que dava suporte D. Pedro I, foi a camada que mais se beneficiou, dando início à cultura política dos apadrinhamentos e dos conchavos: “Para os amigos tudo, aos inimigos, os rigores da lei.”

Alguns pesquisadores defendem que para grandes mudanças históricas, 189 anos não são nada. Realmente, na semana em que comemoramos nossa autonomia política de Portugal, as manchetes estampadas na mídia nos fazem perceber que ainda há muito a ser feito. Vamos relembrar algumas delas:
‘Entidades e grupos de defesa de direitos humanos criticam o arquivamento de inquéritos de homicídios no Brasil, o que aumenta a impunidade.’
‘O valor equivalente à economia da Bolívia foi desviado dos cofres do governo federal de 2002 a 2008: R$ 40 bilhões foram perdidos com a corrupção neste período.’
‘De cada 10 mortes de bebês, filhos de mães jovens, 6 poderiam ser evitadas’.
‘Seguindo o Judiciário, a Câmara Federal pede aumento de até 60% para os seus servidores.’
‘Dilma dá ultimato a governadores: ou é nova CPMF, ou não é nada.’

É… 189 anos depois de ficarmos independentes no grito, o cenário não é nada animador…

E olha que, no meio desse caminho, houve um Tiradentes que sonhou um Brasil livre dos exploradores lusitanos que ficavam com um quinto de toda a riqueza produzida em nosso país. Um quinto! Vinte por cento!!!
Hoje sonhamos com um Brasil livre de usurpadores brasileiros mesmo. No oficial e no paralelo.
No oficial, quase 40% de toda a riqueza produzida no Brasil, o PIB, é destinado a impostos que não resultam em condições de vida digna ao povo brasileiro. E o pior, quanto mais se arrecada mais se gasta de forma desordenada e sem critério.

No paralelo, temos assistido a uma série de denúncias de golpes, desvio de recursos, formação de quadrilha, e em todas essas situações o dinheiro público é o alvo dos bandidos. Até parece que roubar o estado vale a pena! Que não existe punição para esse tipo de crime! Que o dinheiro público não é de ninguém, e não sendo de ninguém, pode ser tungado, desviado, embolsado pela turma que vai bem além do quinto do ouro. E que o cidadão vá para o quinto dos infernos!

Não. Aceitar assim, não. Não podemos ser conformados, omissos e, muito menos, alienados. Quantos desfiles de Sete de Setembro teremos ainda que presenciar, com o ar forçadamente cívico do presidente ou presidenta da república de plantão, a marcha orquestrada das Forças Armadas, os jeitos e trejeitos das autoridades brasileiras num indisfarçável desconforto?

O que falta para compreendermos que a verdadeira independência só existe no acesso civilizado a um Sistema Público de Saúde de qualidade, a escolas públicas com o compromisso de formar cidadãos, a garantia de emprego e salários dignos, transporte coletivo eficiente e segurança pública para todos?

Neste último Sete de Setembro, uma esperança: duas garotas que confessaram não entender nada de política, foram responsáveis por reunir, pelo Facebook, 25 mil pessoas na Marcha Contra a Corrupção.

Enquanto isso, a gente vai levando… Até quando???

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