O relatório que o bilionário Bill Gates apresentou ao G20 está cheio de boas idéias e intenções. O inferno também. São propostas para evitar que a ajuda externa dada pelos países ricos aos mais pobres seque durante a crise econômica mundial. O G-20 é o grupo de países em desenvolvimento criado em 2003 e que tem, como uma das preocupações centrais, a produção mundial de alimentos através da agricultura.
No relatório, Gates pede que parcerias trilaterais como a do Brasil, Japão e Moçambique, sejam um modelo para ajuda externa. Na parceria, O Brasil iria colaborar com a experiência de agricultura no cerrado, que tem características muito semelhantes a certas áreas de Moçambique, enquanto o Japão financiaria obras de infraestrutura no país. Para o todo poderoso da Microsoft, as chamadas novas potências como China, Brasil e Índia devem assumir mais responsabilidades e passar a ajudar mais os países pobres. Bill Gates elogiou os programas de agricultura e saúde do Brasil, mas ressaltou que a colaboração do país no plano mundial ainda é mínima. Ele foi enfático e disse textualmente: “O Brasil precisa deixar de gastar apenas dezenas de milhões de dólares em ajuda a outros países e passar a gastar centenas de milhões: isso não é uma enorme porcentagem do PIB brasileiro”. Há algum tempo, comemoramos a nova imagem que conquistamos ‘lá fora’ de potência global. Lógico, portanto, que não queiramos ser tratados como o “coitadinho” em desenvolvimento. Precisamos ser ouvidos como potência. E o momento é agora, quando o grande desafio é o restabelecimento da confiança mundial na economia global, quando se espera que a Zona do Euro envie ao mundo uma mensagem de credibilidade. Nesta reunião do G20, os Europeus esperavam convencer a China e outros grandes detentores de divisas a colocarem o seu dinheiro numa carteira especial de investimento para servir de suporte ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Nada que relembre a fase em que os necessitados eram países do Terceiro Mundo. O fundador da Microsoft propõe que países que são tradicionalmente doadores, os mais ricos (que hoje são exatamente os mais afetados pela crise) criem impostos ou aumentem os existentes revertendo toda a renda em ajuda às nações em dificuldades. Ele sugere impostos sobre transações financeiras, combustíveis de aviação e tabaco. A presidente Dilma Rousseff defendeu uma antiga proposta da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para estabelecer uma espécie de programa de renda mínima global, em moldes semelhantes ao programa brasileiro do Bolsa Família. De acordo com a OIT, a proposta oficialmente chamada de Piso de Proteção Social “prevê que cada país deveria incluir na oferta de serviços de saúde, independentemente de contribuição, o pagamento de um benefício básico para famílias com crianças – a exemplo do que o governo brasileiro garante com o Bolsa Família. A presidente brasileira apóia, também, outra proposta defendida pela França, de criação de uma taxa mundial sobre operações financeiras para bancar programas sociais, desde que ela venha em conjunto com a aprovação da proposta do piso global para essa espécie de Bolsa-Família Mundial. Tudo seria perfeito se não fosse uma palavrinha incômoda, antipática e temida pelo cidadão: [[imposto]]. A tentativa de emplacar novos impostos beira à covardia para contribuintes do mundo todo. Nos Estados Unidos não conseguiram aprovar aumento de imposto nem para reduzir o gigantesco deficit do orçamento. Falar nisso no país da CPMF, o nosso Brasil, é falar de corda em casa de enforcado… Será que os países do G20 vão usar seus fundos soberanos para financiar infraestrutura em países pobres e fazer com que os países ricos mantenham seus compromissos de ajuda? Segundo especialistas da área, o histórico do G20, quando se trata de cumprir promessas feitas aos pobres, é pobre. Em 2009, os líderes mundiais do G20 prometeram evitar uma repetição da guerra de tarifas dos anos 30, que levou o mundo à Grande Depressão. Desde então, o protecionismo só aumentou. Relatório divulgado esta semana pela União Europeia aponta que foram adotadas 424 medidas protecionistas desde o início da crise. Só neste ano, foram 131. E os governos do G20 foram responsáveis por 80% delas. Como vemos, o jogo no tabuleiro político econômico mundial não é para amadores, nem ingênuos. É preciso estar atento e forte, agora que os ventos mudaram. O Brasil, que se viu de joelhos diante do FMI, por tanto tempo, pagando juros exorbitantes de uma dívida externa que parecia eterna, conseguiu dar a volta por cima e encontrar, enfim, o caminho de um desenvolvimento sustentável, porém, frágil. Fica fácil exigir que nosso país aumente a doação aos países pobres. Mas, sabemos todos, dentro do Brasil temos vários brasis. Se por um lado, convivemos com números significativos na economia interna, como aumento de renda e emprego, crescimento no consumo, controle da inflação, por outro lado temos parcelas expressivas da população que continuam sem acesso à educação, saúde e alimentação, para ficar só no básico. Ajudar o próximo que está mais próximo ou estender as mãos para além das nossas fronteiras? Eis a questão!
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