O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do “Instituto M.K.Gandhi para a Vida Sem Violência”, fazia uma palestra na Universidade de Porto Rico quando foi questionado por um dos presentes que, em tom meio debochado, perguntou se ele acreditava realmente que a Não-Violência Ativa podia mudar alguma coisa num mundo tão violento.
O Dr. Arun parou, pensou, sorriu e disse: “Se pode mudar o mundo… não sei. Mas a mim mudou para sempre”. E compartilhou a seguinte história:
“Eu tinha 18 anos e estava vivendo com meus pais no instituto que meu avô havia fundado, a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul, em meio a plantações de cana de açúcar. O lugar ficava bem distante, no interior e não tínhamos vizinhos. Assim, sempre me entusiasmava a possibilidade de poder ir à cidade. (…)
Certo dia, meu pai me pediu que o levasse à cidade. Ele iria participar de um encontro político que duraria o dia inteiro, e eu me apressei de imediato diante da oportunidade.
Aproveitando minha ida à cidade, minha mãe deu-me uma lista de coisas do supermercado e como iria ficar esperando por ele o dia inteiro, meu pai pediu que me encarregasse de algumas tarefas pendentes, como levar o carro à oficina. Quando chegamos ao local do encontro me despedi de meu pai, ele me disse: ‘Me apanhe aqui às 5 horas em ponto. Vamos fazer um lanche antes de retornarmos para casa.’
Despedi-me e fui rapidamente completar todas as tarefas, corri à oficina onde deixei o carro, combinando de pegá-lo às 4 horas.
Encontrei-me, então com meus amigos e fomos almoçar, demorando-nos num bate-papo ate á hora do cinema. Estava tão concentrado no filme estrelado por John Wayne, que me esqueci do tempo. Eram 5:30 da tarde, quando me lembrei. Corri à oficina, peguei o carro, passei no supermercado para pegar as compras e corri até onde meu pai estava me esperando. Quando cheguei já eram mais de 6 horas da tarde. Ele me perguntou com aflição e ansiedade: ‘O que houve, onde você estava, por que chegou tão tarde?’
Não tive coragem de dizer a verdade, então eu lhe disse que o carro não estava pronto e que tive que esperar…
Meu pai disse, com tristeza: “Filho, eu estava preocupado com seu atraso e liguei para a oficina. O carro estava pronto desde as 3 horas… Creio que algo não anda bem na maneira pela qual o tenho educado, pois você não teve confiança em dizer-me a verdade. Vou refletir sobre o que tenho feito de errado com você, onde tenho falhado como pai. Vou caminhar os 18 km até nossa casa e pensar sobre isto.’
E assim, vestido com seu traje e seus sapatos elegantes, meu pai fez a pé o longo trajeto até nossa casa. (…) Eu, coberto de vergonha, só pude segui-lo, por mais de cinco horas, dirigindo lentamente atrás dele…
Vendo meu pai sofrer a agonia de uma mentira estúpida e desnecessária que eu havia dito,  decidi, desde aquele momento, que nunca mais na minha vida iria mentir.
(…) Se ele me tivesse castigado do modo como costumamos castigar nossos filhos, teria eu aprendido a lição? Talvez sim, talvez não…
Se tivesse sofrido um castigo violento, pode até ser que continuasse cometendo os mesmos erros, só que às escondidas.
Mas o gesto de meu pai, que ele aprendeu com meu avô, um gesto pacífico e, silencioso de não-violência ativa foi tão forte que nunca mais esqueci.
Você me pergunta se a não violência pode mudar o mundo. Posso lhe dizer que pode mudar as pessoas, como mudou a mim. E já que o mundo é feito pelas pessoas…