A Primavera Árabe se antecipou ao setembro brasileiro e, no final do ano passado, começou a varrer velhos ditadores do mapa africano. Agora, a humanidade constata: a ditadura faz mal à saúde. Assim como para os fumantes, está cada vez mais restrito o espaço para ditadores no mundo moderno. Mouammar Kadhafi foi morto, após ser capturado por rebeldes num duto pluvial, na verdade um buraco, quando tentava fugir de Sirte, sua cidade natal, assim como já havia acontecido com Sadan Hussein. Cenas do linchamento dele foram as últimas de uma era que durou 42 anos, numa Líbia comandada com mão de ferro pelo homem que ficou por mais tempo no poder. Kadhafi iniciou a carreira militar aos 17 anos, após integrar a Academia Militar de Benghazi, segunda cidade da Líbia, e a Real Academia Militar de Sandhurst, na Inglaterra. Já oficial do exército, organizou a oposição ao rei Idris Primeiro, que mantinha relações cordiais com o governo dos Estados Unidos. Kadhafi liderou um golpe que derrubou esse Rei e, assim, chegou ao poder em 1969.
Em 1976, Kadhafi publicou o Livro Verde, onde fez uma confusa mistura de religião e política, rejeitando tanto o marxismo quanto o capitalismo e afirmando os ideais de uma revolução inspirada em princípios islâmicos. Com um discurso e atitudes exóticos e espalhafatosos, assim como a própria aparência, ele exerceu uma das mais cruéis ditaduras do mundo. Entre os gestos megalomaníacos estão a proibição de bebidas alcoólicas e jogos de azar, a expulsão da comunidade judaica e de empresas e cidadãos americanos do território líbio. O governo de Kadhafi foi acusado de envolvimento direto em atentados terroristas como o de Lockerbie, na Escócia, em dezembro de 1988, quando a explosão de um Boeing da PanAm deixou 270 mortos. Anos depois o ditador, pressionado pela ONU, reconheceu sua culpa, numa tentativa de reaproximação com o Ocidente. Em troca da suspensão das medidas contra o país, o tirano líbio ofereceu, em 2002, uma indenização às famílias das vítimas americanas de Lockerbie. Nos últimos tempos foi visto flertando com líderes mundiais, que faziam vista grossa à brutalidade do regime líbio, de olho nas imensas reservas de petróleo do país. Kadhafi foi recebido com honras de chefe de estado na França em 2007. George W. Bush, Barack Obama, Silvio Berlusconi e Nicolas Sarkozy lhe estenderam a mão. O presidente Lula prestou-lhe homenagem numa visita em julho de 2009, tratando-o como “amigo, irmão”. Mas, como nessa vida tudo passa, um tsunami de revoltas populares irrompeu no norte da África e colocou em xeque ditaduras históricas, entre elas a do Coronel beduíno. Era a Primavera Árabe que, com apoio das forças da Otan, foi encurtando os espaços de poder em vários países. Egito, Tunísia, Iêmen, Líbia… Então, cabe aqui uma reflexão: se o poder de Kadhafi chegou ao fim, o mérito foi do povo líbio que disse não, lutou, resistiu e pôs fim à ditadura, inspirados pelos tunisianos e egípcios. Se dependesse dos dirigentes ditos democratas do restante do mundo talvez a história fosse outra. Afinal, a Líbia do Coronel Kadhafi está assentada sobre um imenso barril de petróleo. Mas a paciência do povo era um barril de pólvora, pronto a explodir. E explodiu.
Atacado, acuado, Kadaffi estava desaparecido desde agosto de 2011, quando tropas do Conselho Nacional de Transição conquistaram a capital Trípoli e invadiram seu quartel-general. O capítulo final era apenas uma questão de tempo. As imagens do ditador ensanguentado, sendo arrastado e espancado por rebeldes, correram o mundo. No vídeo, ele, conhecido pelo desprezo que tinha pela vida de seus adversários, aparece implorando por sua própria vida. Um tiro o calou para sempre. O episódio pode nos levar a perguntar: era mesmo necessária tanta violência? Kadhafi deveria ter sido julgado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade? Ou a execução sumária, como aconteceu com Bin Laden, foi a “melhor” solução? Quando o povo desacredita de suas autoridades e instituições passa a valer a Lei de talião. Sobre ela, o pacifista Mahatma Gandhi ponderou: “se escolhermos o caminho do olho por olho, dente por dente, vamos acabar vivendo num mundo de cegos e banguelas…” Sadan Hussein passou, Bin Laden passou, Mubarack passou, outros ditadores vão passar. Afinal, nesta vida tudo passa. O que deve permanecer é uma sociedade onde as leis sejam justas e aplicadas a todos – sem distinção.
Atacado, acuado, Kadaffi estava desaparecido desde agosto de 2011, quando tropas do Conselho Nacional de Transição conquistaram a capital Trípoli e invadiram seu quartel-general. O capítulo final era apenas uma questão de tempo. As imagens do ditador ensanguentado, sendo arrastado e espancado por rebeldes, correram o mundo. No vídeo, ele, conhecido pelo desprezo que tinha pela vida de seus adversários, aparece implorando por sua própria vida. Um tiro o calou para sempre. O episódio pode nos levar a perguntar: era mesmo necessária tanta violência? Kadhafi deveria ter sido julgado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade? Ou a execução sumária, como aconteceu com Bin Laden, foi a “melhor” solução? Quando o povo desacredita de suas autoridades e instituições passa a valer a Lei de talião. Sobre ela, o pacifista Mahatma Gandhi ponderou: “se escolhermos o caminho do olho por olho, dente por dente, vamos acabar vivendo num mundo de cegos e banguelas…” Sadan Hussein passou, Bin Laden passou, Mubarack passou, outros ditadores vão passar. Afinal, nesta vida tudo passa. O que deve permanecer é uma sociedade onde as leis sejam justas e aplicadas a todos – sem distinção.
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