segunda-feira, 18 de julho de 2011

ACEROLA

VARIEDADES: Cabocla; Okinawa; Olivier;
Rubra; Sertaneja.
VALOR NUTRITIVO: a acerola é uma excelente fonte de vitamina C (ácido ascórbico), além de ser uma fonte razoável de pró-vitamina A. Também contém vitaminas do complexo B como tiamina (B1), riboflavina (B2) e niacina (B3), e minerais como cálcio, ferro e fósforo, embora os teores sejam baixos.
CLIMA: a aceroleira é uma planta de clima tropical, porém adapta-se bem em regiões de clima subtropical. Temperaturas entre 15ºC e 32ºC, com médias anuais em torno de 26ºC, são as mais favoráveis. Para que a mesma cresça e produza bem, também é fundamental uma adequada disponibilidade de água no solo. Precipitações entre 1200mm e 2000mm, bem distribuídas ao longo do ano, são consideradas ideais. Além disso, a planta é exigente quanto à insolação, que influencia bastante a produção de vitamina C.
SOLO: solos profundos, areno-argilosos e bem drenados são os mais indicados.
PROPAGAÇÃO: sementes (para a formação dos porta - enxertos), estaquia e enxertia por garfagem.
SUBSTRATO PARA MUDAS: para a germinação de sementes e enraizamento de estacas recomenda-se o uso de areia lavada apenas ou acrescida de vermiculita, na proporção, em volume, de 1:1. Para mudas em crescimento recomenda-se uma mistura composta à base de casca de pinus queimada (180,0 L), vermiculita (20,0 L), torta de mamona (3,0 L), calcário dolomítico (0,6 kg) e adição da fórmula NPK 10-10-10 (0,5 kg).
ÉPOCA DE PLANTIO: preferencialmente, no início ou durante a estação chuvosa; havendo possibilidade de irrigação, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, exceto no inverno em regiões com temperaturas inferiores a 15ºC.
ESPAÇAMENTO: 5,0 m x 5,0 m ou 6,0 m x 4,0 m.
PRÁTICAS CULTURAIS: para que a aceroleira produza bem, algumas práticas culturais são essenciais como o controle de plantas daninhas, adubações (baseadas na análise do solo), podas de formação e de limpeza, e irrigação (em regiões onde ocorre déficit hídrico nos meses mais quentes do ano).
POLINIZAÇÃO: para um bom vingamento de frutos, a aceroleira depende da polinização das flores por insetos polinizadores, destacando-se abelhas do gênero Centris spp. Além disso, é recomendável o plantio intercalado de mais de uma variedade de acerola para favorecer a polinização cruzada.
PRINCIPAIS PRAGAS: bicudo do botão floral (Anthonomus acerolae); cigarrinha (Bolbonata tuberculata); cochonilha parda (Coccus hesperidium); formigas cortadeiras (Atta spp.); mosca das frutas (Ceratitis capitata); ortézia (Orthezia praelonga); percevejo vermelho (Crinocerus sanctus); pulgão (Aphis spp.) e nematóides (Meloidogyne spp.).
PRINCIPAIS DOENÇAS: antracnose (Colletotrichum gloesporioides); cercosporiose (Cercospora sp.); seca descendente de ramos (Lasiodiplodia theobromae) e podridão de frutos (Rhizopus sp.).
COLHEITA: os frutos devem ser colhidos a cada dois ou três dias, retirando todos os frutos maduros e aqueles mudando de coloração, manuseando os mesmos com cuidado para evitar lesões e evitando deixá-los expostos ao sol após a colheita.
PÓS-COLHEITA: após a colheita, os frutos devem ser levados a uma casa de beneficiamento, onde são submetidos a uma seleção e lavagem com água fria. Frutos para consumo ao natural são acondicionados em embalagens plásticas, pesados e conservados sob refrigeração à temperatura de 7 a 8ºC, por um período de até 10 dias. Frutos destinados à exportação são armazenados sob congelamento à temperatura de –20ºC, que permite a conservação por mais tempo.
PRODUTIVIDADE: a aceroleira produz três ou mais safras durante o ano, concentradas principalmente na primavera e verão, que dependem da disponibilidade de água no solo. A partir do 3º ou 4º ano do plantio, plantas adultas chegam a produzir acima de 40kg de frutos/planta/ano, que corresponde a uma produtividade em torno de 16t/ha.
USOS: a acerola apresenta elevado potencial para produtos processados (suco integral e polpa congelada) e indústria farmacêutica. Para uso doméstico, é geralmente consumida ao natural e na forma de sucos, geléias e doces de massa, podendo ser misturada a outros sucos de frutas como laranja, manga e mamão.

Convivendo com Pragas e Doenças da Acerola

CONTROLE DE PRAGAS NO CULTIVO DA ACEROLA

Apesar da rusticidade da acerola, a incidência de algumas pragas de maior ou menor interesse econômico tem sido observada com freqüência nas áreas irrigadas do submédio São Francisco, destacando-se, na estação seca, a dos pulgões.
Pulgões
Podem causar sérios prejuízos à planta. Ao sugarem a parte final dos ramos, provocam seu murchamento e morte, o que força a planta a gerar brotos laterais. O ideal, neste caso, é fazer pulverizações de óleo mineral emulsionável, na concentração de 1 a 1,5% em água. Os pomares irrigados por aspersão sobre a copa têm apresentado, em geral, menor índice de infestação.
Bicudo
Faz sua oviposição no ovário das flores e nos frutos em desenvolvimento dos quais se alimenta nas primeiras etapas de seu crescimento. Em geral, os frutos atacados pelo bicudo ficam deformados. O controle se faz através de pulverizações com paration na época do florescimento, repetindo-se a pulverização após dez dias. Ainda, recolher e enterrar todos os frutos caídos no chão e eliminar as outras espécies do gênero Malpighia existentes nas proximidades do pomar.
Nematóides
É a maior importância econômica. A aceroleira é muito sensível ao ataque de nematóides, principalmente os do gênero Meloidogyne. As plantas atacadas enfraquecem e apresentam menor desenvolvimento, tanto da parte aérea como das raízes, que encurtam e engrossam. Obter mudas sadias, produzidas em solos não infestados com fitonematóides, e utilizar leguminosas como Crotalaria spectabilis e Crotalaria paulinea para posterior incorporação ao solo são dicas para evitar a praga.
Outros
Poderá ocorrer também o ataque de cochonilhas e cigarrinhas ainda não identificadas, porém de controle simples. Em geral esses insetos são controlados, sem maiores custos, ao se proceder às pulverizações para o combate das pragas de importância econômica.
Em certas épocas do ano, a mosca-das-frutas (Ceratitis capitata) causa prejuízos aos frutos da acerola. Recomenda-se a utilização de paration ou óleo mineral para o controle das cochonilhas e de enxofre para o controle dos ácaros, além de produtos à base de fenthion, como isca ou em pulverização, contra a mosca-das-frutas.

MELHORAMENTO DA ACEROLEIRA

1. Introdução

O interesse pela acerola teve início em 1946, quando o professor Corrado Asenjo, do Instituto de Bioquímica da Universidade de Porto Rico, descobriu o alto teor de vitamina C que esse fruto possui, constatando teores de até 4000 mg de ácido ascórbico e deidroascórbico por 100 g de polpa. A vitamina C é fator antiescorbútico por excelência, além de participar ativamente de vários processos metabólicos fundamentais ao organismo humano. O aumento de seu consumo está particularmente indicado na dieta de lactantes, crianças e adolescentes, gestantes, nutrizes, organismos envelhecidos ou portadores de processos infecciosos e patológicos mais diversos, como gripe, resfriados, hemorragias capilares, inflamação e sangramento de gengivas, inflamações das articulações, etc.

A preocupação com a saúde e o corpo, aliada ao ritmo de vida intenso, tem provocado mudanças no hábito alimentar das pessoas, que passaram a preferir alimentação saudável e, ao mesmo tempo, de preparo rápido e fácil. Nesse contexto, as frutas desempenham importante papel e têm conquistado novos espaços, tanto no mercado interno quanto no externo.

Os frutos de acerola são excepcionalmente ricos em vitamina C, contêm vitamina A e constituem-se ainda em boa fonte de ferro e cálcio. Além disso, contêm tiamina, riboflavina e niacina, precursores da vitamina B. O cultivo em escala comercial de acerola desenvolveu-se em algumas regiões tropicais e subtropicais do continente americano e apenas na década passada, com a crescente demanda do mercado externo, ganhou status de pomar comercial no Brasil.

O aumento da lucratividade dos pomares de acerola por meio da utilização de cultivares com maior produtividade e conteúdo de vitamina C, constitui-se no principal desafio do melhoramento genético, a quem cabe a responsabilidade de gerar clones ou populações com maior uniformidade genética, que propiciem frutos que satisfaçam aos mais diferentes paladares, de modo a viabilizar a conquista de mercados mais exigentes.

O melhoramento genético das plantas, por outro lado, envolve um conjunto de procedimentos, com fundamentação científica, cujo objetivo é a alteração de características dos cultivares, de modo que os novos materiais obtidos possibilitem aumento na produtividade e qualidade do produto final. Para isso, o trabalho pode ser dirigido para caracteres com adaptação a elevados teores de elementos tóxicos do solo, resistência a doenças e tolerância a pragas, conformação da copa das plantas mais adequada à colheita, precocidade, mudanças no comprimento do ciclo de frutificação e alterações na constituição física e química dos frutos, de modo que o resultado final seja a maior lucratividade do investidor e a maior satisfação do consumidor.

O conjunto de conhecimentos, métodos e técnicas desenvolvidos ou aperfeiçoados no século XX na área de melhoramento genético tem propiciado avanços espetaculares na modificação das plantas, tanto para as espécies de ciclo curto como para as perenes. Particularmente com a aceroleira, a carência de informações é decorrente do reduzido número de melhoristas envolvidos com a cultura, do pouco tempo em que se pratica o melhoramento da planta e do conseqüente reduzido número de resultados alcançados.

Diante da importância da cultura e dos inúmeros problemas que esta apresenta, são ainda relativamente poucas as pesquisas. A falta de variedades definidas tem sido apontada como um dos principais problemas. A rápida expansão da cultura, associada a métodos inadequados de propagação, levou à formação de grande parte dos pomares com mudas provenientes de propagação sexuada, com grande desuniformidade. Os métodos de propagação vegetativa já estão bem definidos e asseguram a herança das características das plantas matrizes. No entanto, com relação ao melhoramento e à exploração da variabilidade genética, ainda há muito a ser feito.

São necessários trabalhos de coleta, caracterização e avaliação de germoplasma, facilitando a identificação e o intercâmbio de genótipos com características desejáveis, que possam ser recomendados para cultivo comercial ou utilizado em hibridações. No entanto, a pesquisa de suporte ao melhoramento é incipiente, sendo necessários estudos que gerem informações relativas à biologia reprodutiva, incluindo taxa de cruzamento natural, partenocarpia e incompatibilidade, desenvolvimento de técnicas de polinização, além de controle genético e herdabilidade das características de interesse agronômico.

O cultivo da acerola intensificou-se rapidamente no Brasil, no período de 1988 a 1992, principalmente pela adaptação da planta aos climas tropical e subtropical, com grande produção de frutos de excelente qualidade, pelo seu elevado teor de vitamina C e pela intensa demanda no mercado internacional.

2. Taxionomia e Morfologia
2.1. Taxionomia

A aceroleira pertence à família Malpighiaceae e gênero Malpighia, o qual é formado por 39 a 41 espécies de arbustos e pequenas árvores, sempre verdes, a maioria delas encontradas em estado nativo nas Antilhas, América Tropical, em grande parte do México, América Central e Ilhas do Caribe, sendo cultivadas principalmente como plantas ornamentais e poucas delas exploradas como espécies frutíferas.

Reino: Plantae

Divisão: Tracheophyta

Subdivisão: Spermatophytina

Classe: Angiospermae

Subclasse: Dicotyledonae

Ordem: Geraniales

Família: Malpighiaceae

Gênero: Malpighia

Espécie: Malpighia emarginata D.C.
2.2. Morfologia

A aceroleira é um arbusto ou uma árvore pequena, com tronco único, freqüentemente ramificado, com pequeno ou médio porte. No caso do plantio comercial, as plantas são mantidas a uma altura de 1,3 a 3,2 m, formando uma copa densa, constituída de numerosos ramos lenhosos, espalhados e normalmente curvados para baixo. Quando as plantas são cultivadas livremente, podem alcançar uma altura de 6 a 9 metros.

O crescimento da planta pode ser longitudinal ou lateral e desenvolve-se das axilas das folhas, nos ramos do ano anterior ou nos ramos do mesmo ano. As ramificações terminais possuem de 15 a 30 cm de comprimento, com entrenós longos, folhas longas e largas. As ramificações laterais surgem das axilas das folhas, têm entrenós curtos, folhas agrupadas, mais curtas e estreitas.

O sistema radicular é formado por uma raiz pivotante ou por raízes axiais, sendo que a maior parte delas estão localizadas na parte mais superficial do solo.

As folhas da planta são inteiras, opostas, de pecíolo curto, subpapiráceas a papiráceas (consistência do papel), variavelmente obovadas (de forma ovada, mas com a parte mais larga voltada para o ápice), em algumas plantas ovaladas ou elípticas-lanceoladas, lisas ou onduladas, de coloração verde-pálida na face inferior. As folhas estão localizadas sobre os brotos de ramificações terminais, de coloração verde-escura e brilhante na face superior e verde-pálido na inferior, são simples, inteiras e tem posição oposta, com pecíolo curto, de forma oval, ovalada, elíptica ou elíptico-lanceoladas, geralmente compridas, com um comprimento médio de 4 a 6 cm, podendo variar de 2,2 a 10 cm; uma largura média de 1,23 a 2,62 cm e com uma variação de 0,6 a 4 cm; elas têm um ápice obtuso e normalmente emarginado (pequena reentrância no ápice), raramente agudo; base aguda a acuneada (forma de cunha). As folhas das ramificações laterais são mais curtas, com 3 a 4,2 cm de comprimento e estreitas, com 1,7 a 2,1 cm de largura. Existem plantas com e sem pêlos nas folhas e nos pequenos ramos.

As inflorescências e as flores podem tanto originar-se na axila das folhas dos ramos maduros em crescimento, como também nas axilas das folhas do ramo recém brotado, onde crescem isoladas ou em cachos de dois ou mais frutos. A planta forma as inflorescências de coloração rosa, rosa-esbranquiçada, violeta-esbranquiçada a vermelha, as quais estão dispostas em cimeiras axilares (inflorescências com ramificação sempre terminal que acaba sempre em uma flor e com número definido de ramos), pedunculadas, com 2-3 a 4-5 flores em média, podendo variar de 1 a 6; os racimos (cachos) em forma de umbela (numerosas flores pedunculadas) se inserem na mesma altura do eixo principal, com 1,5 a 2 cm de comprimento, chegando até 2,5 cm.

As flores surgem sempre após um surto de crescimento vegetativo e estão dispostas em pequenos cachos axilares, são de coloração (dependendo do clone) branca, rósea-esmaecida, rosa-pálida a violeta esbranquiçada e, aparecendo na planta depois de um surto de crescimento vegetativo, são originadas das axilas das folhas dos ramos maduros ou das axilas das folhas dos ramos de brotações recentes ou novos; estas flores são hermafroditas ou perfeitas (flor masculina e feminina na mesma planta e na mesma flor), pequenas, medindo transversalmente cerca de 1,2 a 2,5 cm.

O cálice possui entre 6 a 10 pequenas sépalas sésseis (sem pedúnculo), de coloração verde. A corola é formada por 5 pétalas persistentes, franjadas ou irregularmente dentadas, algumas ou todas com glândulas

sésseis, podendo ter de 6 a 10 por cálice, as pétalas com garras finas e de coloração verde, apresentando 10 estames funcionais.

Os estames, em número de 10, são glabros (sem pêlos), bem formados, todos sustentando na sua extremidade uma antera; tem os filetes unidos na sua base e são todos funcionais.

O gineceu (parte feminina da flor) é tricarpelar, constituído de ovário globular, glabro, súpero, fusionado, com 3 lóculos e 3 estilos; com estilo truncado ou obtuso no ápice, mas raras vezes levemente uncinado (que produz ganchos na superfície); estilos laterais grossos, levemente curvados, com 3 a 3,5 mm em média, podendo variar de 2,5 a 4 mm.

A aceroleira produz flores em abundância, contudo o índice de pegamento de frutos é pequeno, o que se deve à baixa eficiência de polinização aberta. A iniciação floral ocorre antes de 8 a 10 dias da emissão da gema, do aparecimento do botão floral à antese (abertura) da flor, decorrendo, em geral, 7 dias e da antese até o amadurecimento do fruto cerca de 21 a 32 dias. A planta, quando originada de propagação vegetativa (estaquia e enxertia) com irrigação e adubação, inicia seu florescimento depois de 5 a 7 meses do plantio da muda no campo. As mudas propagadas por sementes, nas mesmas condições, florescem e frutificam depois do segundo ano. Em clima tropical, a planta produz regularmente entre 9 e 12 anos de idade, enquanto em clima subtropical, uma planta permanece em produção durante 12 a 15 anos depois de seu plantio no campo.

O fruto da acerola é uma pequena drupa carnosa, tripirenóide ou tricarpelada, de forma ovóide deprimida a subglobosa, arredondada, ovalada ou cônica e, quando maduro, de cor vermelha, roxa ou amarela, normalmente mais largo do que comprido; o fruto tem um comprimento (altura) de 1 a 2,5 cm, variando de 1,82 a 4,11 cm de diâmetro e peso de 3 a 8 gramas, mas os frutos maiores podem ter um peso de até 16,4 gramas.

As aceroleiras crescem isoladas ou em cachos de 2 ou mais frutos, sempre na axila das folhas, notando-se que os frutos que crescem isolados geralmente são maiores quando comparados com aqueles formados em cachos. Um fruto contém em sua polpa cerca de 80% ou mais de suco, sendo que 60 a 70% deste suco é facilmente extraído.

O epicarpo é muito fino e delicado; a casca tem a superfície lisa ou sensivelmente trilobada, tornando-se membranosa, muito fina e delicada, sendo facilmente lesionada durante o manuseio incorreto do fruto maduro; a parte externa apresenta-se de cor verde, quando o fruto está em desenvolvimento, passando para uma cor amarelo-púrpura, amarelo-laranja, vermelho-alaranjada, vermelho a vermelho-escura, quando está em plena maturação. O mesocarpo é formado por células grandes e suculentas, com polpa macia, sucosa, ácida, subácida, ligeiramente doce, ou doce acidulada em algumas variedades, de sabor agradável e bem característico.

No interior do fruto existem 3 caroços unidos no centro do mesocarpo, os quais dão origem a 3 expansões laterais, que têm formas de asas ou cristas longitudinais, com textura resistente e apergaminhada. Os caroços (reticulados e mais ou menos trilobados) são duros e constituem o endocarpo, podendo ou não conter uma semente no interior de cada um, formada por células alongadas e lignificadas, de fibras vasculares adjacentes, sendo que a semente falta com muita freqüência, devido à ocorrência de anormalidades no seu desenvolvimento, na formação do óvulo, pela deterioração do saco embrionário, como falta de polinização, na ausência de fertilização, pelo abortamento do embrião ou devido à incompatibilidade bem acentuada por auto-cruzamento. Cada semente está inserida num caroço reticulado, têm a forma ovóide, é pequena, com 2,5 a 5,1 mm de comprimento por 1,8 a 3,2 mm de largura e mostra em sua extremidade mais estreita uma saliência, que é a radícula embrionária, sendo constituída por 2 cotilédones maciços, que encerram entre eles, na região axial e em conexão com a radícula, a plântula ou meristema apical.

A planta tem capacidade para formar de 2 a 4 safras em clima subtropical, de 3 a 6 safras em clima tropical e, quando são adubadas, irrigadas e com uma condução adequada, podem florescer e frutificar continuamente em clima tropical. Os frutos, quando estão completamente maduros, desprendem-se facilmente da planta e caem no solo, sofrendo lesões na casca e na polpa, principalmente por sua casca fina, delicada e pelo seu alto conteúdo de suco na polpa.

3. História do Melhoramento

Os primeiros trabalhos visando a seleção de aceroleiras com características de interesse agronômico foram realizadas em Porto Rico, na Flórida e no Havaí. Entre os cultivares obtidos estão os principais atualmente cultivados em Porto Rico, Flórida e Havaí, como Florida Sweet e B-15. A seleção desses genótipos foi baseada principalmente na produtividade, em características do fruto (tamanho, conteúdo de vitamina C e açúcares) e na conformação da copa.

No Brasil, o único cultivar de acerola recomendado para o plantio comercial é o Sertaneja BRS, lançado pela Embrapa Semi-Árido, o que torna os dados bem variáveis. Em plantios comerciais, a produção varia de 20 a 50 kg de frutos/planta/ano, sendo que em uma das maiores empresas produtoras de acerola, a Caju da Bahia S.A. (CAJUBA), a produção média apresentada é de 27 kg/planta/ano.

Suplantada a euforia inicial, que caracterizou a explosão de cultivo da aceroleira no Brasil na década de 80, a espécie constitui importante alternativa econômica para a região Nordeste, não só pela consolidação do mercado de polpa congelada, como também pela possibilidade real de aproveitamento na extração de vitamina C. O Nordeste brasileiro, por suas condições de solo e clima, é a região do país onde a acerola melhor se adapta, o que incentiva a instalação de grandes empreendimentos agroindustriais em torno desta cultura e favorece a geração de empregos.

Inicialmente, os trabalhos de melhoramento da aceroleira foram conduzidos em diversas instituições, como a Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA, a Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba – EMEPA, a Universidade Estadual de Londrina – UEL e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, no Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido – CPATSA, no Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical – CNPMF e no Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical – CNPAT, entre outras.

Diversos trabalhos têm sido conduzidos em outras instituições do país, nas quais estão sendo desenvolvidos estudos básicos de suporte ao melhoramento, como os relacionados à biologia reprodutiva, citogenética, controle genético das características de fruto, etc.

No Brasil grande parte dos plantios comerciais foi formada a partir de mudas oriundas de propagação sexuada, resultando em grande desuniformidade genética. Faltam variedades comerciais definidas, que reunam qualidade de fruto e alta produtividade. Essa situação começa a reverter-se, uma vez que as instituições de pesquisa começam a lançar novas variedades. Algumas variedades, selecionadas em plantios comerciais e difundidas regionalmente são relatadas na literatura, embora sem descrição detalhada, entre as quais pode-se citar: Coopama-1; Okinawa; Inada; Flor Branca; Barbados; Mineira; Monami e Camta 40.2.

No estado de Pernambuco, tanto a Universidade Federal Rural de Pernambuco como a Embrapa Semi-Árido, vêm desenvolvendo programas de melhoramento de aceroleira. Na Embrapa Semi-Árido foi estabelecida, em 1992, uma coleção que conta, atualmente, com 42 acessos, introduzidos por propagação sexual e assexual; dentre estes, as 18 primeiras introduções foram caracterizadas e avaliadas, levando-se em consideração produção por planta, número de frutos colhidos, peso médio do fruto, teor de ácido ascórbico, sólidos solúveis totais, acidez titulável e coloração da polpa.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas/BA, está desenvolvendo um trabalho de avaliação de seu banco de germoplasma de aceroleira, que conta atualmente com 154 acessos, dos quais 20 foram caracterizados de maneira mais ampla, considerando-se 20 descritores. A partir da caracterização destes acessos, 7 se destacaram por agrupar maior número de características de interesse e estão sendo multiplicados para avaliação clonal.

E Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA) iniciou em 1991 um trabalho de coleta de germoplasma de acerola no estado de Pernambuco, a partir do qual foram obtidos 14 clones.

Na Paraíba, a EMEPA mantém, na Estação Experimental de Mangabeira (João Pessoa), uma população de aproximadamente 1000 plantas, oriundas tanto de processo sexuado como assexuado, que tem alimentado os plantios do Estado. A partir desse germoplasma a empresa está buscando selecionar genótipos promissores para estabelecimento de um programa de melhoramento genético. As descrições da planta que estão sendo utilizadas referem-se a porte, arquitetura da copa, idade, dados relativos à colheita (número, período de duração) e produção, bem como características do fruto, como peso, diâmetro, consistência, cor, sabor e rendimento de polpa.

No estado do Paraná, o programa de melhoramento genético de aceroleira da UEL iniciou-se em 1992, com a formação de um pomar clonal, constituído de genótipos selecionados em pomares no Norte do Estado.

Na Universidade Federal de Viçosa foram avaliadas características do fruto de 112 genótipos, com o objetivo de obter uma avaliação preliminar do seu potencial para utilização como novas variedades, para utilização em cruzamentos e também para orientar o intercâmbio de germoplasma com outras instituições.

Com o objetivo de melhorar a qualidade da acerola por meio do aumento do conteúdo de vitamina C e da produção de frutos, visando reduzir custos e aumentar a produtividade, está em execução, no estado do Ceará, desde 1976, um programa de melhoramento genético desenvolvido na Embrapa Agroindústria Tropical.
4. Objetivos do Melhoramento

O melhoramento da aceroleira tende a se dividir em melhoramento de variedades para copa e de porta-enxertos, apresentando, em cada caso, objetivos distintos.

Antes de definir os objetivos de um programa de melhoramento de aceroleira, deve ser considerado o destino de seus frutos. Frutos destinados para mesa, comercialmente, e para o plantio doméstico devem ser doces e apresentar sabor agradável. O teor de ácido ascórbico desse tipo de fruto é baixo se comparado com o dos frutos do tipo azedo, mas excede em muito o de outras frutas. O sabor suave, o valor nutricional e a aceitação dos frutos, bem como a natureza ornamental das plantas, são qualidades desejáveis para as variedades de frutos doces. Variedades com finalidade industrial devem apresentar maior teor de ácido ascórbico (consequentemente, frutos mais ácidos), conformação de copa adequada para cultivo em pomares comerciais e alta produção, além de resistência a pragas e doenças.

As baixas produtividades registradas atualmente nos pomares de aceroleira direcionam a seleção prioritariamente para a obtenção de plantas que produzam pelo menos 100 kg/planta/ano de frutos.

O porte da planta é um caráter da maior importância em fruteiras perenes. O porte baixo facilita a colheita e as práticas de manejo, como poda, combate às pragas e doenças. A uniformidade de copa é importante para o bom ordenamento das plantas de acordo com a densidade populacional estabelecida, com reflexos positivos no manejo do pomar e na produção.

Outro caráter de importância econômica em acerola é o teor de vitamina C dos frutos. Deve-se ressaltar que, não obstante o caráter produção ter sido historicamente o de maior importância nos programas de melhoramento de plantas, esse atributo não constitui, quando considerado de forma isolada, passaporte para que, um clone ou uma variedade, seja aceito de imediato, sobretudo em se tratando de fruteiras perenes. Nessas espécies, a qualidade do produto é, quase sempre, tão ou mais importante que a quantidade produzida, seja no caso de consumo ao natural, seja quando do consumo do produto industrializado. Assim, características como cor do fruto, sabor, odor, textura e coloração da polpa, teor de açúcar, acidez, uniformidade, tamanho, resistência ao transporte, entre outros, são da maior importância e devem ser relevadas nos programas de melhoramento.

De maneira geral, podem-se estabelecer os seguintes caracteres como base para a seleção de variedades:

- Variedades para mesa (frutos do tipo doce): frutos de tamanho grande (³ 15 g), relação sólidos solúveis totais/acidez de aproximadamente 10:1, polpa vermelha e consistente, boa palatabilidade, alta relação polpa/semente. A planta deve apresentar copa globular, com boa aeração e pilosidade ausente ou baixa nas folhas.

- Variedades para indústria (frutos do tipo azedo): frutos de tamanho médio ou grande (³ 9 g), sólidos solúveis totais acima de 8%, teor de ácido ascórbico superior a 1500 mg/100 g de polpa, alta relação polpa/semente, polpa vermelha ou amarela (utilizada para enriquecer suco de outras frutas). A planta deve apresentar copa globular, com boa aeração, produtividade acima de 50t/ha e pilosidade ausente ou baixa nas folhas.

Os programas de melhoramento de aceroleira têm voltado suas atenções também para a resistência e tolerância a pragas e doenças, que estão se tornando fatores limitantes para a cultura na região Nordeste, principalmente as pragas de fruto e o nematóide das galhas. Esse fato certamente irá acometer outras regiões produtoras, principalmente devido à tendência de uniformização genética dos novos plantios.

Ênfase especial tem sido dada à procura de genótipos resistentes ou tolerantes ao nematóide das galhas (Meloidogyne spp.), um dos principais problemas fitossanitários da cultura da aceroleira.

As espécies de insetos de maior ocorrência e danos em aceroleira são: percevejo vermelho pequeno (Crinocerus sanctus), bicudo do botão floral (Anthonomus acerolae), cigarrinha (Balbonata tuberculata), pulgão (Aphis spiraecola), ortézia dos citros (Orthezia praelonga) e minador das folhas (Physocoryna scabra).

Com relação as enfermidades, já existe número considerável de patógenos catalogados para a aceroleira no Brasil, inclusive enfermidades até então não relatadas para a cultura em outros países. No entanto, nenhum deles pode ser considerado, até o momento, como fator limitante do sucesso da cultura, embora com a quebra do equilíbrio biológico, a tendência seja de que as enfermidades venham a se tornar mais expressivas e danosas.

Durante o processo de seleção, deve-se procurar, juntamente com o melhoramento para outras características, selecionar genótipos que apresentem bom estado de sanidade, visando associar resistência a doenças com as demais características de interesse. As principais doenças constatadas em aceroleira são: antracnose (Colletotrichum gloesporioides), mancha castanha (Cercospora sp.), mancha cinza concêntrica (Myrothecium sp.), verrugose (Sphaceloma sp.), podridão dos frutos (Rizophus sp.), seca lenta (Lasiodiplodia theobromae) e mancha de alga (Cephaleuros virescens), além de outras associações patogênicas que esporadicamente causam morte das plantas.

Com o desenvolvimento e expansão da cultura, é bem provável que a utilização dos porta-enxertos venha a se tornar uma necessidade; estes porta-enxertos deverão possuir resistência a nematóides das galhas, sistema radicular vigoroso e induzir adequada conformação de copa.

Outras características podem ser, num determinado espaço de tempo, desejáveis para atender a situações específicas do sistema de produção ou tendências de mercado. Nesses casos, o melhorista deve avaliar a viabilidade econômica do investimento na pesquisa.

5. Métodos de Melhoramento

A base dos trabalhos de melhoramento de aceroleira tem sido a seleção de genótipos portadores de características de interesse em pomares comerciais a partir de avaliações exclusivamente fenotípicas e, posteriormente, a multiplicação vegetativa e a avaliação desses genótipos em campos experimentais sob delineamentos, visando obter valores fenotípicos mais próximos dos respectivos valores genotípicos e a diminuição das variações devido a interações genótipo x ambiente.

Embora o material cultivado no Brasil tenha base genética estreita, grande variabilidade foi gerada pela recombinação gênica, decorrente da utilização de mudas provenientes de propagação sexuada, na formação dos pomares comerciais. A seleção tem sido feita principalmente com base em características da planta (produção, porte e conformação da copa) e do fruto (tamanho, sabor, consistência, coloração e rendimento de polpa). A possibilidade, até o momento, da seleção em pomares comerciais de materiais com grande potencial para utilização como novas variedades é um fator que diminui os custos iniciais do melhoramento da aceroleira.

Os métodos mais promissores para os programas de melhoramento da aceroleira são a introdução de germoplasma, seleção de clones, seleção massal e seleção com teste de progênies. O melhoramento voltado para a obtenção de clones visa atender a demanda imediata de novas variedades, enquanto o melhoramento populacional, visando a obtenção de sementes melhoradas, seria utilizado como antecipação aos problemas que possam ocorrer pela futura massificação do plantio de clones. Embora a utilização de populações obtidas a partir de sementes melhoradas possivelmente apresente redução da produtividade em relação ao plantio de clones, são menos prováveis os problemas fitossanitários que podem ter conseqüências desastrosas em cultivos geneticamente homogêneos.
5.1. Introdução de Germoplasma

A introdução de variedades melhoradas de outras regiões pode resultar na disponibilidade imediata de tipos favoráveis, à semelhança daqueles desenvolvidos em programas de melhoramento. Sendo a cultura da aceroleira ainda recente no Brasil, este método apresenta grande potencial, principalmente pela introdução de materiais-elite de outros países para uso direto como novas variedades. A longo prazo, o método passa a ter importância na introdução de materiais para uso como genitores na obtenção de populações segregantes, visando a introdução de genes de interesse, como resistência a doenças e pragas que porventura não se encontrem em nosso germoplasma.

Diversos programas tem introduzido germoplasma de aceroleira, aproveitando materiais com características desejáveis identificados em outras regiões, principalmente através do intercâmbio entre diferentes instituições nacionais de pesquisa. No entanto, para que o processo de introdução seja eficiente é necessário que seja orientado a partir da caracterização adequada do material. As diferenças nos descritores e na metodologia de avaliação de características utilizados nas diferentes instituições têm dificultado o intercâmbio de informações e germoplasma. Esse problema, no entanto, tende a ser contornado, através da adoção de um guia de descritores mínimos, definido em reunião realizada em setembro de 1999, na Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.

O processo de melhoramento por meio da introdução de germoplasma consiste na introdução do material, caracterização deste nas condições locais, em experimentos com delineamentos adequados para estudos da interação genótipo x ambiente e seleção dos materiais de melhor desempenho para utilização imediata como novas variedades. No caso de clones, o material deve ser introduzido a partir de material vegetativo, visando manter a integridade genotípica dele.
5.2. Seleção de Clones

A seleção de clones é a maneira mais eficiente para suprir a demanda imediata de variedades. O resultado pode ser visualizado a curto prazo, e esta tem sido a principal metodologia adotada nos programas de melhoramento de aceroleira. Por se tratar de uma espécie que pode ser propagada vegetativamente, o genótipo de cada planta pode ser transmitido integralmente através das gerações e multiplicado assexuadamente. Os genótipos das plantas, multiplicados via clonagem, são avaliados em diversos ambientes e períodos, em delineamentos apropriados. Assim, os valores médios de cada planta podem ser obtidos com alta precisão, o que permite a seleção e identificação dos genótipos com características desejáveis.

Na seleção visando a obtenção de clones não há interesse em conhecer as magnitudes dos componentes da variância genética, uma vez que, com a reprodução integral dos genótipos através das gerações, a covariância genética entre genitores e descendentes inclui todos os componentes de variância genética.

A seleção inicial deve ser feita para os caracteres de alta herdabilidade, destacando-se as plantas em que estes caracteres estão abaixo do nível desejado. Nesta fase são avaliadas centenas ou milhares de plantas e forte índice de seleção deve ser aplicado. As plantas selecionadas são em seguida clonadas, para se iniciar a avaliação em experimentos com repetições.

Na primeira fase de avaliação, tem-se grande número de clones, devendo ser utilizado pequeno número de repetições. Nesta fase, a ênfase é testar o maior número possível de clones, em detrimento do número de plantas na parcela e do número de repetições, numa mesma unidade de área. Geralmente, a avaliação é feita em um único local. Após cada fase de avaliação o número de clones diminui, enquanto o número de repetições e os locais aumentam, podendo essas avaliações ser repetidas em diferentes anos, aumentando-se a precisão experimental.

O número mínimo de repetições exigidas para selecionar com segurança os genótipos favoráveis pode ser obtido a partir do coeficiente de repetibilidade das características em avaliação. O conhecimento do coeficiente de repetibilidade das características de interesse permite avaliar o dispêndio de tempo e mão-de-obra necessários para que a seleção de indivíduos geneticamente superiores seja feita com a acurácia desejada. Valores altos de estimativa do coeficiente de repetibilidade indicam que é possível comparar os genótipos com alto nível de precisão com base na média de um número relativamente pequeno de medidas repetidas. Por outro lado, haverá pouco ganho em acurácia com o aumento do número de medidas repetidas. Quando a repetibilidade é baixa, grande número de repetições é necessário para que se alcance um valor de determinação (nível de precisão) satisfatório.

As estimativas dos coeficientes de repetibilidade das características altura média, diâmetro médio e peso médio de fruto, conteúdo de vitamina C e acidez titulável demonstraram, em estudos, alta regularidade na superioridade dos indivíduos de um ciclo para outro e que 2 ciclos de avaliação são suficientes para seleção dos melhores indivíduos com nível de confiança nas inferências acima de 90%.

A característica sólidos solúveis totais demonstrou ser bastante influenciada pelo ambiente, sendo necessárias, no mínimo, 7 medições para alcançar um nível de precisão de 90% na comparação entre indivíduos. A característica relação peso da polpa/peso do fruto (RPF) foi altamente irregular de um ciclo para outro, sendo necessárias, no mínimo, 26 medições para alcançar coeficientes de determinação superiores a 90%, demonstrando ser inviável o aumento do número de medições visando aumentar a eficiência da seleção.

5.3. Seleção Massal

O método consiste na seleção de indivíduos com características fenotípicas favoráveis, que irão constituir a geração seguinte. Os materiais selecionados se intercruzam aleatoriamente a cada geração. Considerando que a seleção e a recombinação são simultâneas, via de regra, a seleção ocorre em apenas um sexo. A seleção massal explora a variabilidade já existente na população e visa aumentar a freqüência dos fenótipos de interesse e, consequentemente, dos genes favoráveis. É um método simples, de fácil condução e pouco dispendioso. No entanto, na obtenção de populações melhoradas, seu resultado é de longo prazo. A eficiência do método depende da herdabilidade das características, sendo efetivo para genes de efeito aditivo. A seleção de indivíduos é feita exclusivamente com base no fenótipo.

São poucos os dados referentes à herdabilidade e influência do ambiente em características de fruto e da planta de aceroleira. Quando não se dispões de informações referentes à herdabilidade, o coeficiente de repetibilidade, que representa o limite máximo da herdabilidade no sentido amplo, é um bom indicador do controle genético das características.

O tamanho, o peso do fruto, a variância fenotípica entre plantas de vitamina C e a acidez titulável são características de alta regularidade, com coeficientes de repetibilidade superiores a 0,8, indicando que, para estas características, a seleção massal deverá ser efetiva, proporcionando boa resposta à seleção. Por outro lado, as características sólidos solúveis totais e a relação polpa/semente apresentam baixos coeficientes de repetibilidade e grande influência ambiental, o que torna a seleção massal pouco efetiva para estas características.
5.4. Seleção com Teste de Progênies

A seleção com base no comportamento das progênies é mais eficiente do que a realizada com base exclusivamente no fenótipo dos indivíduos. Assim como os experimentos clonais, a seleção baseada em famílias permite que sejam feitas repetições, sendo as avaliações mais precisas, devido à redução da variação fenotípica.
5.4.1. Seleção entre famílias de meio-irmãos

A seleção com teste de progênies de meio-irmãos sugerida para a aceroleira constitui adaptação do método de seleção recorrente entre famílias de meio-irmãos; no entanto, a seleção e a recombinação ocorrem na mesma etapa. O método tem como finalidade a obtenção de populações melhoradas de polinização aberta para uso como variedades. A população inicial a ser submetida à seleção constitui-se de pomares comerciais, onde, como relatado anteriormente, existe variabilidade suficiente para garantir a seleção de bons materiais.

A seleção inicial, nos pomares comerciais, é baseada exclusivamente na avaliação fenotípica, e grande número de plantas deve ser avaliado. Devem ser consideradas características de fácil mensuração e visualização, como forma da copa, presença de pêlos nas folhas, peso, cor e sabor dos frutos e estado fitossanitário geral da planta. Em trabalhos de seleção a partir de pomares comerciais, têm-se avaliado de 1000 a 50000 plantas. Um índice de seleção rigoroso deve ser adotado, visando maximizar o ganho genético e viabilizar a utilização de experimentos com repetições.

As famílias de meio-irmãos (FMI), submetidas à avaliação durante o processo de seleção, podem ser obtidas a partir da coleta de sementes das plantas selecionadas na população inicial (pomares comerciais), de maneira que a população irá contribuir com metade dos genes nas famílias selecionadas. Assim, muitos genótipos com características indesejadas, presentes nos pomares comerciais, contribuem para a formação das progênies. Outra maneira de obtenção das FMI é por meio do intercruzamento somente das plantas selecionadas individualmente na população inicial, que devem ser propagadas vegetativamente e estabelecidas em um campo de policruzamento. Esse procedimento visa obter progênies que conduzam apenas genes oriundos das plantas selecionadas, garantindo maior progresso genético.

Além de possibilitar maior progresso genético, os campos de policruzamento obtidos a partir das plantas selecionadas nos pomares comerciais permitem que seja feita a avaliação clonal e a identificação de materiais para uso imediato como clones. Para serem recomendados para plantio, os materiais mais promissores, identificados nos campos de policruzamento, devem ser multiplicados e avaliados em diferentes ambientes.

As famílias são avaliadas individualmente em ensaio em um único local, com repetições, e a seleção é baseada na média das famílias. Durante essa avaliação ocorre cruzamento aleatório das famílias. O número de características avaliadas deve ser maior, sendo incluídas características físico-químicas dois frutos (SST, acidez, teor de ácido ascórbico, teor de antocianina, relação polpa/sementes, peso e tamanho do fruto) e dados morfológicos e fenológicos das plantas (forma da copa, altura da planta, época e duração do florescimento e da frutificação, produção e pilosidade das folhas).

A partir do ensaio de avaliação das famílias de meio-irmãos, é feita a seleção entre famílias. Os frutos são colhidos das melhores famílias e darão origem às progênies sobre as quais será efetuado novo ciclo de seleção. Vários procedimentos alternativos podem ser explorados na seleção com testes de progênies. Como exemplo, após avaliação das FMI, mantêm-se as melhores e eliminam-se as demais, de maneira que no próximo ciclo de recombinação contribuam apenas as FMI selecionadas; assim, a seleção estará sendo praticada em ambos os sexos.

Na escolha do procedimento de seleção a ser adotado, deve-se considerar a duração do ciclo de seleção (obtenção, avaliação, seleção e recombinação das progênies), que varia segundo o critério de seleção adotado, o sistema de cruzamento e a duração do período juvenil. Assim, o progresso genético anual torna-se muito mais informativo que a resposta por ciclo de seleção. Quanto menor for o ciclo de seleção, maior tende a ser a resposta por ano e menor o custo dessa resposta.

5.4.2. Seleção entre e dentro de famílias de meio-irmãos

As progênies provenientes de plantas selecionadas nos pomares comerciais, em grande parte estabelecidos a partir de mudas de origem sexuada, são geneticamente heterogêneas, uma vez que são constituídas de plantas com alto grau de heterozigose. As diferenças genéticas entre plantas dentro das famílias podem ser exploradas por meio da seleção de plantas dentro das melhores famílias. No entanto, para que a seleção dentro de progênies seja efetiva, além de existir heterogeneidade genética dentro das parcelas, a característica deve apresentar alta herdabilidade, pois a seleção é feita com base na avaliação de plantas individuais dentro das parcelas; nesse caso, o nível de precisão é inferior ao obtido quando a seleção é feita com base na média ou nos totais de parcelas. Isso se deve à diminuição da influência dos erros experimentais quando se utilizam médias, em vez de indivíduos, como critério de seleção.

Foram obtidas estimativas de herdabilidade para progênies em fase juvenil (1 ano de idade) em nível de plantas, entre e dentro de progênies, para as características altura da planta, diâmetro do caule, conformação da copa, florescimento e frutificação. As estimativas obtidas indicam que, com exceção do florescimento, ganhos de seleção de progênies serão superiores aos obtidos com a seleção de plantas dentro de progênies. No entanto, os índices que correspondem à variação ambiental entre e dentro de progênies, indicaram uma condição mais favorável para a seleção dentro de progênies, principalmente no que se refere à altura de planta, ao diâmetro do caule e à frutificação.
5.5. Hibridações Controladas

Para realização de cruzamentos controlados entre aceroleiras é necessário que o melhorista esteja familiarizado com os hábitos de floração e a morfologia floral, dominando as técnicas de emasculação e polinização. Para realizar a emasculação e a polinização é necessário: observar o horário da antese floral; escolher o botão floral intumescido, apto à emasculação; retirar as pétalas e os estames; isolar o botão floral com saquinhos; examinar o sucesso da emasculação; e depositar o pólen do genitor masculino no estigma receptor do genitor feminino.

Na execução das polinizações, uma das técnicas utilizadas consiste no seguinte:

a) proteção dos botões florais na tarde do dia anterior à sua abertura, nas inflorescências que servirão como genitor feminino;

b) no dia seguinte, efetuar a emasculação das flores protegidas, nas inflorescências do genitor feminino;

c) coleta dos botões florais na tarde do dia anterior à sua abertura nas inflorescências que servirão como genitor masculino, acondicionando-as em frasco de vidro com pequeno chumaço de algodão umedecido;

d) no dia seguinte, das 8 às 12 horas, quando ocorre as antese das flores e o horário é favorável à deiscência das anteras, a polinização manual é efetuada, balançando-se a flor coletada sobre o estigma da flor receptora, de forma que os grãos de pólen se soltem e fiquem aderidos à sua superfície;

e) após uma semana, efetua-se a verificação do pegamento.

É conveniente salientar que as condições ambientais locais podem modificar o horário de realização dessas atividades.

6. Perspectivas e Tendências

O cultivo da aceroleira no Brasil se caracterizou por um crescimento rápido e desordenado de pomares que utilizavam técnicas de plantios as mais variadas possíveis. Plantios iniciados com mudas obtidas por via sexuada originavam alta segregação no porte da planta, no tamanho, forma e teor de vitamina C dos frutos e na produção. A produtividade média desses plantios era de 20 a 30 kg de frutos por planta/ano, considerada baixa. A ocorrência de deficiências nos processos de irrigação e de adubação, perdas de até 30% por ocasião da colheita e, sobretudo, alto perecimento dos frutos são alguns dos problemas registrados nesses plantios. Especialistas da área de processamento de alimentos referem-se à forma inadequada de congelamento e/ou armazenamento dos frutos e da polpa, que causa o amarelecimento destes e, consequentemente, a perda de seu valor comercial.

Outro aspecto a ser analisado é que o cultivo da acerola precisa estar associado à agroindústria. Talvez seja esta a principal causa da frustração de muitos pequenos produtores que entraram no negócio, entusiasmados pelos altos preços de mercado na época, mas que não contavam com estrutura de beneficiamento dos frutos, negligenciando, também, outros detalhes da cadeia produtiva. É conveniente destacar que enquanto o médio e o grande produtor, mais bem estruturados para atender às necessidades do mercado, consideram a cultura lucrativa, os demais eliminaram os seus pomares, por falta de rentabilidade.

A aceroleira pode ser considerada uma espécie rústica, fácil de ser cultivada, apesar do pouco conhecimento existente. Entretanto, a colheita manual eleva muito o custo de produção de um pomar comercial, em alguns casos inviabilizando-o economicamente. Na época em que o produto era, de certa forma, novidade, o preço de mercado remunerava adequadamente o produtor. No entanto, o que se observa atualmente é a acomodação dos preços, provocando desestímulo aos produtores.

Do ponto de vista da fruticultura moderna, qualquer incentivo à produção em escala comercial de determinado produto deve ser acompanhado por incentivos à pesquisa, objetivando minimizar os custos de produção e incorporar ao processo produtivo as tecnologias geradas localmente ou aquelas adaptadas. No caso da acerola no Brasil, a pesquisa estava desorganizada e não atendeu às necessidades imediatas dos produtores. A pesquisa foi canalizada para métodos de propagação com pouca diversificação em suas linhas e poucos resultados incorporados ao processo produtivo.

Atualmente, passada a euforia inicial, a pesquisa está se estruturando para atender à demanda dos produtores em relação à obtenção de cultivares que concentrem a produção em determinados períodos do ano, para redução dos custos com mão-de-obra na colheita; às causas que levam ao amarelecimento de frutos e polpas congeladas; bem como às formas de armazenamento e conservação, para que o produto tenha seu valor comercial garantido por mais tempo. Outras pesquisas estão sendo propostas nas áreas de fitossanidade, processamento de suco e irrigação.

Diante dessas constatações, os produtores precisam estar alertas para o manejo da cultura, analisando todos os setores da cadeia produtiva e, principalmente, não iniciando novo plantio sem antes avaliar o mercado, tanto do ponto de vista da demanda, como das exigências dos consumidores em relação à qualidade do produto.

Existe grande variabilidade genética a ser explorada nos plantios comerciais brasileiros e nos bancos de germoplasma, fruto da propagação sexuada e conseqüente recombinação e segregação gênica. No entanto, a caracterização de genótipos é de fundamental importância no suporte ao desenvolvimento de programas de melhoramento genético com essa fruteira. Entretanto, na execução de trabalhos de caracterização, é essencial a definição de descritores ou caracteres que vão ser registrados e documentados, sendo a padronização um dos pontos-chave na viabilização do intercâmbio de materiais e dados entre diferentes pesquisadores e instituições.

Pode-se sugerir que a variabilidade genética encontrada nos plantios comerciais, implantados a partir de mudas de propagação sexuada, contribuiu para a estabilização da estrutura racial de patógenos e para o equilíbrio biológico das populações de pragas.

A partir dos conhecimentos acumulados até o momento com relação à biologia reprodutiva da espécie, pode-se concluir que existe grande variação na taxa de frutificação e que esta depende, em diferentes graus, de acordo com o material, da polinização cruzada. Existem relatos de que alguns genótipos apresentam sensível diferença na produção quando são cultivados isolados ou em associação com outros. Assim, torna-se importante o conhecimento do efeito da polinização na frutificação dos genótipos utilizados nos programas de melhoramento, principalmente daqueles destinados à obtenção de clones, pois pode ser necessária a recomendação de plantios mistos, com combinações de clones em arranjos que maximizem a produtividade.

As espectativas a longo prazo estão voltadas para o melhoramento populacional, pois este seria utilizado como prevenção contra os problemas que possam ocorrer devido à homogeneização genética dos pomares, advinda da utilização de clones em larga escala.

Finalmente, o cultivo da acerola, por demandar muita mão-de-obra, principalmente na colheita, como já foi anteriormente comentado, ficará circunscrito aos países que detêm abundância desse recurso a custos reduzidos, além de condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento.

USO DE BIOFILME E REFRIGERAÇÃO NA CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE ACEROLA

O nordeste tem se destacado como região de maior produção de acerola no Brasil, sendo o estado de Pernambuco o segundo maior exportador desta fruta conhecida como fonte riquíssima de vitamina C (ácido ascórbico).

A acerola, assim como outros frutos, é altamente perecível uma vez que apresenta um elevado teor de umidade. O maior entrave na difusão e comercialização de acerola na forma de fruta fresca é sem dúvida a curta vida útil dos frutos após a colheita. Os frutos continuam sofrendo reações metabólicas, mantendo os processos fisiológicos ativos durante todo o período pós-colheita. A acerola passa por uma série de alterações durante os processos de maturação, amadurecimento e senescência, onde a clorofila é degradada paralelamente com o surgimento de carotenóides, antocianinas, açúcares redutores e principalmente, a acentuada perda de vitamina C .

Metodologias adequadas de armazenamento vêm sendo estudas com o intuito de diminuir as perdas pós-colheita dos frutos e prolongar sua vida útil, que é geralmente curta. O uso de refrigeração e atmosfera modificada reduz as perdas de massa, sabor, textura, cor e demais atributos de qualidade dos produtos. A utilização de CaCl2 na superfície de frutos tem mostrado um retardamento nos processos de amadurecimento e senescência destes, ao diminuir a taxa respiratória e produção de etileno, além de manter a firmeza do fruto ao formar ligações entre as pectinas ácidas da parede celular e lamela média.

A película de filmes comestíveis é uma proposta recente que utiliza como matéria-prima os derivados da amilose, da celulose ou do colágeno. Podem ser usados diretamente sobre os alimentos, e muitas vezes apresentam propriedades de barreira e de melhoria da aparência, da integridade estrutural e das propriedades mecânicas do alimento. A fécula de mandioca é uma das matérias-primas mais adequadas para a obtenção destas películas as quais melhoram o aspecto visual dos frutos e hortaliças, por serem transparentes, brilhantes, não pegajosas, além da sua fácil remoção com água e de seu baixo custo. Nos últimos anos, a professora Marney Cereda e colaboradores do Centro de Raízes e Amidos Tropicais (CERAT), da Universidade Estadual Paulista (Botucatu-SP) vêm desenvolvendo pesquisas relacionadas com filmes biodegradáveis a partir de fécula de mandioca com destaque na conservação pós-colheita de frutas e hortaliças, a exemplo de banana, goiaba, morango, pepino, pimentão e couve-flor.

Nesta pesquisa foram utilizados frutos de um genótipo de aceroleira do Banco Ativo de Germoplasma da Universidade Federal Rural de Pernambuco (BAG), a qual teve como objetivo avaliar a qualidade e a vida útil dos mesmos, através da utilização de biofilme de fécula de mandioca. Os frutos no estádio de maturação “de vez” foram desinfectados em água clorada (100 mg.L-1 cloro ativo) e recobertos com o biofilme nas concentrações de 1, 2, 3 e 4% (g/v) sendo considerado como controle, frutos sem película e armazenados em temperatura de 22°C e 10°C, ambas a 85%UR. Sólidos solúveis totais (SST), pH, acidez total titulável (ATT) e ácido ascórbico (AA) foram determinados no dia da colheita e em intervalos regulares durante o armazenamento. Durante o período de armazenamento, os frutos não considerados aceitos para consumo in natura foram descartados.

Os frutos recobertos com biofilme na concentração de 1 e 2% permaneceram com suas características de qualidade por um período de 15 dias a 10°C. A concentração de 1% proporcionou a manutenção do mais alto teor de ácido ascórbico.

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